quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Uma espécie de tristeza a crescer cá dentro

Às vezes acho que gosto de ter pena de mim. Ou talvez não, se calhar não é pena. Talvez uma espécie de tristeza a crescer cá dentro, um vazio a encher-me, um ir desistindo de tudo aos pinguinhos. Ou será medo? Há tempos li a Carta aos meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya, do Jorge de Sena. Já a tinha lido várias vezes, mas só agora aquele verso ficou a martelar-me

Porque a morte é de todos e virá

Sento-me diante do mar, as ondas a dissolverem-se em branco, o azul no mar e no céu, as pessoas a gozarem a vida, e o verso, sem mais nem menos,

Porque a morte é de todos e virá

e volta e meia

Porque a morte é de todos e virá

Há dias, no convento de S. Paio, na Cerveira, uma escultura do José Rodrigues a avisar-me

Em breve esquecerás tudo, em breve todos te esquecerão

escrito num bloco de mármore com as letras ao contrário, que se lêem como deve ser no espelho colocado em frente, e no espelho não apenas as letras, olho e eu também ali ao lado das letras


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