segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Tão longe o olhar deste vazio de agora - 1

Pago,
- É um euro e vinte, quer o recibozinho?
tiro o carro do estacionamento, da escuridão subterrânea do estacionamento, cá fora o sol, o vento, algumas árvores
(meio raquíticas mas árvores)
o canal que se estende com reflexos trémulos, a sombra das pontes desenhada na água, uma curva ligeira ao fundo, gente, enquanto a
- É um euro e vinte, quer o recibozinho?
definha lá no fundo, nem vento nem sol, sequer uma árvore ainda que raquítica, horas e horas mergulhada num cheiro difuso a escape e borracha, numa meia-luz baça, numa rotina baça,
- É um euro e vinte, quer o recibozinho?
horas infindáveis encafuada numa gaiola, o olhar tão triste apesar dos cantos da boca que tentam erguer-se, esboçar um sorriso,
- É um euro e vinte, quer o recibozinho?
mais triste ainda que o olhar.
Tão longe o olhar deste vazio de agora.

Sem comentários: