segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Tão longe o olhar deste vazio de agora - 2

Sempre tão novas
(aos trinta anos já se é velha)
tão arranjadinhas, tão apresentáveis,
- Não há cá desleixos
apesar do salário escasso e incerto, o sorriso (sorriso?) sempre vigilante,
- É preciso causar boa impressão
o inevitável
- Posso ajudar nalguma coisa?
sempre engatilhado, os diminutivos sempre à mão
- Também temos a t-shirtezinha em verde
dando sempre razão ao cliente,
- O cliente tem sempre razão
horas intermináveis de pé a arrumar o que os clientes desarrumam, a disfarçar o cansaço com sorrisos em que se adivinham azedumes reprimidos, e de súbito, às vezes, o olhar
- Ao menos o olhar, já que eu não posso
a escapar-se, a partir,
- Estou aqui mas não estou aqui
a ausentar-se para muito longe
(para onde?)
para muito longe deste vazio de agora,
- Se eu pudesse ir com o olhar...
Até quando passar a vida atrás de um balcão,
- Se puder ajudar nalguma coisa
as pernas que doem, a sola dos pés que se abre
(até quando esta vida?)
lá fora o sol, o vento nas árvores,
- Não tem em azul? Preferia em azul
cansaço, apesar do cansaço de novo o esforço de um sorriso
- Azuizinhas não temos
mais triste ainda que o olhar, tão longe o olhar deste vazio de agora.

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