segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Quem sabe se um dia?

Sentar-se um pouco por fim no sofá coçado, esticar as pernas numa lassidão todo o dia ansiada, procurar um escape na televisão
- Coisas alegres, chatices já tenho que cheguem
a apresentadora num escarlate decotado
(eu num escarlate decotado)
fazendo boquinhas de espanto fingido nos píncaros dos saltos altos, derramando uma alegria de plástico,
- Coisas alegres, chatices já tenho que cheguem
uma boa disposição profissional, enquanto no rodapé
Beijinhos para a Cristina e para o Manel
pérolas de uma ternura de pacotilha,
Digo ao mundo e a ti que és a minha vida
de um lirismo pandilha que não dispensa a exposição pública,
Digo perante todo o país amo-te Andreia
desforrar-se de vez em quando metendo-se nas lojas à procura de trapinhos, estar do outro lado
- Agora sou cliente
não ter de derramar simpatias, diminutivos sorridentes, e depois andar bonitinha ajuda a parecer alguém, a esquecer as frustrações, a humilhaçãozinha de ser
(de se sentir?)
menos que os outros, e quem sabe até se um dia,
- Há-de ser sempre assim a minha vida?
quem sabe se um dia, quem sabe, as coisas não vão mudar?

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